sábado, 26 de janeiro de 2008

Nada tem nexo
Tudo é apenas

Um reflexo


[Millôr Fernandes)]

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Manual prático: como matar saudade


Qual é a forma comumente usada para se matar saudade?


Pode ser bebendo intensamento a palavra da pessoa saudosa
Ou quem sabe se embriagar com o perfume que tal pessoa exala
Pode ser também olhar e olhar e olhar a pessoa, até o sol deitar e levantar de novo
Ou quem sabe tagarelar e fofocar até a língua dar um nó!
Pode ser recordar momentos, revivê-los, resgatá-los
Ou quem sabe viver mais e mais momentos!
A saudade existe para que possa depois deixar de existir
Sentir saudade é amar. Matar saudade é coisa de quem ama..

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008


Me conta uma mentira

- Verdade?
Não, verdade não. Me conta uma mentira
- Por que?
Quero ouvir uma mentira
- Por que?
Porque a verdade precisa da mentira. Como posso valorizar as coisas que você diz ser verdade se não conheço a mentira em você?
- E precisa que eu diga uma mentira pra você acreditar no que é verdade?
Sim! Preciso de algo que contraste
- Não vou mentir pra você. Não quero mentir pra você. NUNCA!
Mas se sou eu que estou pedindo..
- Não adianta, não insista!
Tudo bem. E se eu mentir?
- Não terei como saber, pois acredito em tudo que você me fala
E se eu disser que menti?
- Pra que? Pare com isso! Já está me irritando..
Você é chato. Às vezes odeio você..
- (sorriso constrangido)
É mentira
- Poxa, eu quase acreditei..
Mentira tua, e tu nem sabe mentir

Casa Amarela


Eu quero morar numa casa amarela

Que tenha um piano pendurado na janela
Um armário de coisas antigas no quarto
Um liquidificador no banheiro
E a cama na varanda!

Eu vou morar numa casa amarela
Que tem janelas que nunca se fecham
Que tem portas de toda abertas
Onde só entra gente de respeito
E eu respeito toda a gente

Eu moro numa casa amarela
Que diz bom dia, boa tarde e boa noite
Onde só se entra de verdade sendo verdadeiro
Onde mentira fica na soleira
E todo dia faz bom tempo!

A casa amarela.. aquela

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008



"Quando era garoto e folheava o Antigo Testamento para crianças, ilustrado com gravuras de Gustave Doré, via nele o Bom Deus em cima de uma nuvem. Era um velho senhor, tinha olhos, um nariz, uma longa barba, e eu dizia a mim mesmo que, como tinha boca, devia comer. Se comia, devia ter intestinos. Mas essa idéia logo me assustava, porque, apesar de pertencer a uma família pouco católica, sentia o que havia de sacrilégio nessa idéia dos intestinos do Bom Deus.

Sem o menor preparo teológico, a criança que eu era naquela época compreendia espontaneamente que existe uma incompatibilidade entre a merda e Deus, e, por dedução, percebia a fragilidade da tese fundamental da antropologia cristã, segundo a qual o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Das duas uma: ou o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus - e então Deus tem intestinos - , ou Deus não tem intestinos e o homem não se parece com ele.
Os antigos gnósticos pensavam tão claro como eu aos cinco anos. Para resolver esse maldito problema, Valentino, Grão-Mestre da Gnose do século II, afirmava que Jesus `comia, bebia, mas não defecava´.
A merda é um problema teológico mais penoso que o mal. Deus dá liberdade ao homem e podemos admitir que ele não seja o responsável pelos crimes da humanidade. Mas a responsabilidade pela merda cabe inteiramente àquele que criou o homem, somente a ele."

Kundera, M. A Insustentável Leveza do Ser (p. 247-248)

Porque hoje eu sou plágio..